Que diabo, já nem a ansiedade é o que era! Uma pessoa refaz-se (raio de
sinónimo) e depois é isto a vida. Um eterno Agosto em que o tempo e a
velocidade a que ele se esvai é o que menos incomoda. Um repetido ‘que-se-lixe’ de quem não quer
saber se faz num dia, ou em dez, o que hoje não lhe apetece. A indiferença
posta na classificação dos compromissos que deixam de ser mais ou menos
urgentes e passam (todos eles) a ser apenas próximos. Ainda me lembro que antes
fazia listas (e listas) de afazeres que chegava a levar comigo para a cama, à
noite. Que, reordenadas em função dos minutos disponíveis, lá apertava entre as
tarefas mais exigentes. Que tinha necessariamente de satisfazer (todas elas)
num curto espaço de prazo. Antes que a nova lista chegasse. Ou, por forma a
conseguir (coisa rara) que o tempo das tarefas não se sobrepusesse ao dos
prazeres. Hoje, tudo isso me parece alheio. Eu diria até, demasiadamente improvável
para que alguém possa simplesmente acreditar. Num click do destino a ansiedade
que me cercava a existência cedeu lugar à tranquilidade e à paz. Só fazer o que
gosto e me agrada sem que a pressa se sobreponha ao prazer que isso me dará, é
o objectivo. Tudo o resto perdeu substância. Deixa de haver grandeza na vida
quando sentimos que nada temos a ver com ela. É por isso que hoje já só sinto o coração disparar ou a tensão arterial subir
quando aperto a braçada na piscina ou forço a cadência na passadeira. E agora,
se não se importam, vou ali comprar o jornal e, depois, quem sabe, ver se as
pêras já estão maduras e continuar o restauro de um móvel que trago em mãos. É
que, para o caso de não terem percebido, tornei-me, também eu, um discípulo dos prazeres de
pacote instantâneo.
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