sexta-feira, 25 de julho de 2014

plantas murchas

Dele dizem tratar-se de um ‘quadro depressivo’, a família e os amigos. Alguns apenas. Outros preferem nada dizer. Reparam só. Uns e outros, todos a observar-lhe a repetição dos dias (das semanas e dos meses). Os rituais em modo repisado. A indiferença pelo que o rodeia. O modelo obrigatório de que é feito o pouco que lhe dá prazer. O tempo que vive no  espaço virtual. A inactividade que lhe absorve a vida e a paciência.  O decrépito evidente. A dificuldade em expandir interesses por outras áreas. Em executar retenções mentais, ou exercícios de raciocínio fora do seu básico de interesses. A incapacidade em reconhecer que o seu comportamento expõe um quadro mental que não é dos mais saudáveis. De defrontar tudo o que acontece fora do (cada vez mais limitado) círculo da sua vontade. De identificar o desconsolo em que se afunda.


Tudo isto, a impedi-lo de tomar consciência que ser uma pessoa é muito mais do que simplesmente existir, a  fazer deste caso um dos extremos  duma sociedade onde cada vez mais cedo se é atirado para fora do mercado de valores (ou de trabalho, se preferirem).  E a verdade é que está a aumentar, de forma alarmante, a quantidade de gente assim. A viver um perpétuo domingo. Sem dias seguintes. Como se estivessem apenas em espera,  a deixar-se envelhecer como plantas murchas.

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