Há momentos
em que o divino (ou alguém por ele) se dispõe a entornar sobre nós uma estranha
generosidade de imprevistas memórias. Este aconteceu na passada semana.
Pedira-se ao
petiz – prestes a comemorar o seu 5º aniversário – que ajudasse a fazer a lista
dos convidados para o evento.
- Afinal,
quem é que queres tu convidar para a tua festa de anos?
Então,
voluntarioso e participativo, o garoto lá tratou de relacionar um a um os
elementos da família, e afins, que ele gostaria de ver presentes no dito
acontecimento.
O pior foi
que, incluído na sua recitada lista, logo após a meia dúzia de nomes mais
óbvios (pais e avós), e quando ainda faltavam mencionar alguns daqueles que são presença obrigatória (tios, primos, amigos íntimos), o ouvimos pronunciar, na infinita doçura das suas palavras - O BIVÔ (O ‘Pá’, como
ele lhe chamava).
Ora, não
haveria aqui aparente contrariedade não fosse a singular e inopinada
circunstância do ilustre relacionado, o bisavô, ter falecido há pouco menos de
8 meses. O que nos deixou a todos visivelmente embaraçados já que trazíamos em
nós a firme convicção de que a criança não mais se lembraria dele, depois
de, numas quantas abordagens que então nos pareceram suficientemente explicadas
e assimiladas (ocasiões festivas do Natal, do fim do ano e outros eventos já
decorridos), se ter introduzido ao rapaz a finitude da morte.
Afinal, raio
de chatice, não somos só nós, adultos (eternas vítimas dessa limitação), que
olhamos a morte como uma tristeza passageira que nos carrega de nuvens escuras
o prazer de viver, mas que há-de passar, um dia. Ao que parece, também para os
inocentes príncipes, à beirinha dos 5 anos, o falecer é um estado passageiro
capaz de ceder ao alívio que precede todos os contratempos. Capaz até de trazer de volta os defuntos, a tempo da festa do seu aniversário.
Sem comentários:
Enviar um comentário