domingo, 27 de abril de 2014

plástico

Chegaram e sentaram-se. Não nos cumprimentámos. Não me surpreende. Há gente assim em todo o lado. Chamam-lhes distraídos. Eu chamo-lhes malcriados. Optei por concentrar-me na TV, ao fundo, sobre a arca frigorífica. «Tamãe queres frangu mori?» - ouvi-a perguntar. Esforcei-me mais ainda. O mori tamãe ía querer frangu. Perguntou se trazia batata frita. Vai trazer, acalmaram-no. Sobre a mesa, estrategicamente colocados ao alcance de todos os olhares, os cordões umbilicais, da Nokia, ou da Samsung, ou lá do que eram. Topos de gama, é claro. Do tamanho de folhas A4. Há quem lhes chame smartphone’s, mesmo quando, como é o caso, apenas servem para fazer chamadas, enviar sms’s e tirar fotos.  «Olha, mori,  inda tenho o relógio na hora antiga, és capax du acertar?». E ele que sim. E ela a dar-lhe o pulso. Com relógio. Vistoso. Enorme. Verde eléctrico. Daquele que arranha a vista. «Tens du tirar.». E ela que sim. «Ora cá temos nós. Dois franguinhos. O que vão beber?». « P’ra mim pode ser uma imp’rial. E p’rati mori?». «Eu quer’uma Pepsi.». E eu a esforçar-me. Já a abrir caminho na direcção do céu, a levitar, com a maçã assada empurrada a golinhos de água. «Olha mori na consigo acertá-lu. Logo à noite eu veju.». Chegam as bebidas. Chega também a pergunta: «Vai querer café?». E eu que sim. E eles já dentro do prato a chafurdarem. E eu pelos ares, muito informal, na direcção do balcão, onde bebi o café e paguei. Desculpem moris, não consigo. Sou alérgico ao plástico que vos reveste os neurónios. 

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