O
amanuense não é só. Faz par com a sua pose distinta a ilusão de que é alguém
que não confere. Um ser que se acha acima, não se percebendo no rés-do-chão da
existência. Lá onde nada mais pesa que não seja o espaço que ocupa no lugar antes
vazio. No entanto, oferecendo-me a sua disposição - que não a simpatia ou o
préstimo - lá me servi e esperei que da mão lhe saísse o trabalho feito. O
tempo foi-se, uma vez, duas, três. O prazo escoado não me trouxe nem o trabalho
nem a explicação do que o tardava. Por isso, passada a demora que o bom senso
impõe, lá arrisquei o recordar. Estará esquecido? Que não, explicou a colega.
Só não há resposta por não caber na lei o pedido formulado. Mas, fiz-me eu
valer argumentando com a disponibilidade do amanuense, seu colega. Ah, esse,
disse-me ela, uma besta, não sabe o que diz, é não lhe dar ouvidos. E eu que já
outras vezes lhos tinha tirado, pensei para comigo: afinal não há muito a
esperar, chega um dia, uma hora qualquer, um momento sem importância, e é
quanta basta para que a presunção se escoe pelo cano da realidade. O amanuense
é um engano que só o tempo esconde. Esperada a sua passagem o que fica é só
mais uma das suas (muitas) aparências. Como o Mercedes à porta do serviço, a
vistosa casa sempre fechada, as reservas agrícolas em crescimento, os anéis de
ouro, e ainda, inevitavelmente, a débil inteligência.
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