sexta-feira, 11 de abril de 2014

o prazer é invisível

A par de tudo isto que por aqui se lê, vão passados seis meses desde que dei forma a este espaço de respiração. Ao revê-lo, como por vezes faço, sinto-o confinado a uma pequenez que pouco mais lhe dá do que a condição de baldio palavroso. Um local exíguo de satisfação que funciona como válvula de escape das dores mais penosas de suportar (algumas delas que até me são alheias, por sinal). 

É daqui, desta aridez de deserto, que reparo nas sombras que me ameaçam, nas ilusões e nos enganos que me alimentam, no fio com que vou tecendo a vida e colorindo as angústias.

Por  tudo  isto  é  sempre  imponderável o  que  daqui   se   desencadeia   em consequências (já que tudo as tem), mesmo  que algumas  delas  nem sequer sejam visíveis a olho nu. Ou, que tantas outras já se pareçam  com dolorosos acontecimentos ainda  antes de o serem. 

Em suma, o uso que dou a este utensílio (da escrita)  que hoje me cura e amanhã me mata, é o  mesmo que possui o remédio que, quando não fazendo nem uma coisa nem outra, pelo menos abranda o sofrimento. 

E depois, na próxima consulta, a médica, caridosamente, perguntar-me-á: continua a perder o seu tempo a autoflagelar-se? 


E eu, consciente da minha fragilidade, arredondando a resposta (e a mentira), digo-lhe apenas: às vezes, muito poucas (raras mas marcantes). 

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