sábado, 30 de novembro de 2013

o que faço aqui?

Sento-me, ligo a TV a fazer zapping como um explorador à cata de diamantes e o que vejo? Um pedófilo a dar uma conferência de imprensa vestido duma pele em que se sente credível - de vítima. Dar tempo de antena a esta gente é uma cena que ofende o meu martírio de telespectador. O que se responde a isto? Silêncio, claro. Não suporto este nojo. Gente de olhar vazio a negar uma realidade à vista de todos. Fazem-me lembrar cães vadios, cheios de feridas no lombo, asquerosos, procurando os sobejos do lixo no caixote da dignidade.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

o desnível


Qual farol no meio da escuridão diz assim o insensato rapazola como lema do seu facebook – Se chegasses ao meu nível morrias de vertigens. E até eu, que só mesmo acidentalmente ali podia ter ido parar (bem se vê), e que por estar anos luz abaixo do seu nível jamais haveria de ser o destinatário das suas cuspidas palavras, achei que, se alguma mais que improvável vez chegasse ao seu nível, entrando pela porta que o idiota usou, também morria certamente, mas não era de vertigens. Era de vergonha, por fazer comentários destes.

Assim se conclui que o garoto, sendo dos que não aprendem com a vida, esconde nesta pose de cagão a altanaria tão imprópria para quem se diz dado à piedade católica. É que, tenho ideia, não rezam os sagrados textos que o ponto de referência para medir o nível seja o saldo da conta bancária. 

Por isso, pegar na sua frase e ampliá-la com o relevo que lhe deu, mais do que a conquista do fátuo e ostentação que certamente desejaria, mostra (e muito) como sofre de défice de humildade.


Mas, adiante, que dê isto as voltas que der não consigo gostar nem um bocadinho do piar dos pavões.

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

cemitério de hesitações

Quando vou ao cemitério não há vez nenhuma  que não me pergunte se o gajo (a ela a dúvida não se aplica) aprovaria aquelas  incursões. Chego lá, certifico-me se as lápides estão de pé. Se a areia não esbeiçou. Faço por ali uns segundos de retardamento  até que lhes oiça as vozes. Ora a um, ora a outro. Atento no que me dizem  (embora nunca  lhes responda)  e depois venho. No caminho trago sempre comigo a sensação de que podia ter feito tudo aquilo sem ter lá ido. À distância.  Enfim, fica por conta do prazer que extraio do aroma das flores de plástico. 

terça-feira, 26 de novembro de 2013

vem aí o Natal

Cá em casa, este ano, estamos em modo de antecipação. Beneficiando da inestimável ajuda (cof… cof… entrou fumo da lareira) do neto mais velho, já fizemos a árvore de Natal e já colocámos todos os adereços correlativos.  Agora, para não perder a mão e aproveitando esta precoce disposição natalícia vou já amassar as filhoses e pregar uma valente ‘buba’ no peru.   Não há como uma pessoa antecipar-se ao futuro para amenizar os efeitos do apocalipse. 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

decisões de risco


Novembro é sempre isto. Uma chuvinha melancólica, um frio que nem o lume aquece, a espera que o vento sem rumo me traga o que mais anseio. Depois, como não chegue, recebo a contrapartida  duns dias de quase Verão, impregnados de aromas do campo e de experiências por fruir.

Já fiz as malas, vou-me a eles daqui a bocado. Contudo, lá chegado não sei que faça primeiro. Talvez corra a ver as árvores novas. As que plantei há três semanas. Ou, talvez fique só pelo terraço, a  ver o sol subir  a escarpa da serra, até ao seu dorso mais alto, atrás do qual se põe. Bom, isto se não me der antes para ficar por ali, quieto, a ler, na cama de rede por baixo da nogueira. Sempre cheia de decisões de risco estas minhas viagens outonais. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

dedicatória inaugural

 (Aos meus netos, à mãe deles e à mãe dela.) 

Espero que consigam repartir entre os quatro o limitado valor desta dedicatória.


E assim sendo vamos lá a mais uma aventura pela infecunda descoberta da minha assumida insensatez.