Diz-se por aí que se vivem tempos de definição. De redutoras definições,
acrescento eu. Sobretudo daqueles que insistem em não se adaptar a esta nova
realidade high tech e ainda não encontraram o caminho certo a
tomar.
O tempo dos currículos de contrafacção, usados com o fito de fazer passar
os donos por aquilo que não eram (como se a miséria não fosse já suficiente),
deu lugar à actual ‘ânsia de mostrar’ que não se compadece com tais ritos de
falsa exibição.
Antes, o mise em scene do ‘Dr.’, ou do 'Engº.', ou do
'Prof.', antecedendo o nome dos que queriam passar por eles, fazia de muitos o
que as próteses dentárias fazem dos dentes – imitações (algumas bem farsolas,
por sinal). Hoje, se dúvidas houvesse, as novas tecnologias acabaram
com elas (mérito quase único que lhes reconheço), impedindo os originais
de se confundirem com as reproduções, como acontece com os quadros a óleo e as
pérolas.
É que o pão-pão-queijo-queijo da realidade tecnológica tudo mostra, tudo
expõe e tudo queima. Já não há pobres cujo espírito se enriqueça com tais
embustes. Perdem assim a credibilidade os que antes julgámos doutos, a quem a
linhagem da conduta (ou da postura) impede de dizer mais do que aquilo que lhes
vemos (ou do que lhes lemos, tanto faz).
Os títulos pessoais anteriormente usados para dar uma aparência florida
(leia-se, um mínimo de importância, ou uma oportunidade de sobrevivência) aos
seus utilizadores, perderam a cintilação e a relevância, em especial quando os
vemos, assim, submersos na neblina desse sinistro que são as vidinhas de cada
um, aqui expostas como é costume. Quantas delas relatadas na mais deprimente
escrita (ou leitura, para quem as interpreta) ou na maior
vulgaridade de imagens.
A tecnologia já não permite que o pechisbeque ofusque com o mesmo
fingimento as caganças e a ilusão das ostentações com que antes extraía
sustento do solo infértil dos imitadores. Já não deixa passar por cordeiros os
cães à cata de sobejos.
É que agora, por estes lados, nestes ambientes, as
danças de salão apenas recreiam os que as saibam dançar. Já não basta querer, é
também preciso poder.