E eis que um garoto,
de quase 28 anos - Andreas Guenter
Lubitz – vítima de uma depressão profunda, arrasta consigo mais 149 almas para
o mais triste e patético (e inesperado) dos fins a que pode entregar-se um adulto ainda
em construção.
E afinal, porque o terá feito assim, acompanhado por
tantos inocentes?
Só encontro como
resposta uma fria incógnita onde cabem todas as explicações. Talvez, quem sabe,
lhe tenha parecido menos doloroso fazê-lo assim.
Incorporando no alívio para o seu ‘sofrimento’, perpetrado numa decisão tomada antes
(muito antes) da entrada na cabine daquele avião, a companhia de toda aquela
pobre gente.
É assustador. Não só imaginarmo-nos à mercê de
tais insanidades, assim travestidas de gente sã e responsável, como ainda
sabermos que, seguramente (e sublinho o seguramente) todos nós privamos, no
nosso dia a dia, com outros Andreas
Guenter Lubitz.
Eu mesmo, assim de repente, me lembro de alguns com
quem já lidei na minha humilde vida profissional. Um, andou 12 (contados)
meses com a mesma roupa e os mesmos ténis. Juro pela minha querida saudinha! Um
fato de treino (sim é de um serviço do Estado que falamos, e sim, faz-se por lá exclusivamente
atendimento público) que permitia as imensas combinações que vocês já estão a
imaginar: com calças e blusão e, com calças sem blusão, em tshirt, portanto,
ora a branca com dizeres nas costas, ora a cinzenta com publicidade no peito.
Era uma figura bisonha, perturbado a um nível que reclamava intervenção urgente
(internamento, até talvez, que um dia o miúdo descompensa-se e vai ser o bom e
o bonito.) Levava esta 'ave' os santos dias a fadar o futuro numa folha Excel,
onde alimentava um gráfico de ambições (imagine-se): Dezº de 2016 - comprar uma
aparelhagem Bang & Olufsen - 2.000,00 €; Agosto de 2015 – comprar um conjunto de sofás Chateau
d’Ax - 4.500,00 €; Março de 2017 – comprar uma mota Honda Gold Wing 29.000,00€.
Há uns anos, pela via do crédito
bancário, adquiriu um apartamento. Não decorreram muitos meses até que a
administração de condomínio do imóvel viesse contactar o serviço. Digamos que
veio certificar-se se a insanidade do petiz, com que se estavam a ver
confrontados, era real ou imaginária. E era real sim, dolorosamente real. Tão
real como as inúmeras histórias (do mais incrível grotesco) que relataram, do
alucinado comportamento do rapaz para com os restantes moradores seus
vizinhos.
Bom, depois desse veio um
outro. Juro que gostava de vos dizer que era melhor. Gostava mesmo. Mas, não
era. A sua bipolaridade entregava-o de manhã bem disposto e comunicativo, levava-o
ao almoço já meio sisudo e fechado em si, e fazia-o retornar à tarde, mudo,
mal-disposto, prestes a explodir de ira, raiva,
cólera, fúria ou outra qualquer dessas danações que a mente humana, quando se inclina para o disfuncional, melhor
sabe exibir.
Um dia, a má sorte ou o avesso destino levou-me a visitar um blog
que o infeliz me confessou sustentar na net (tão mau como este meu, sim é
verdade). É um espaço negro. Onde escreve a negro. Negros textos decalcados de
uma negra infância a que faltaram preciosos e indispensáveis ingredientes. Mete
medo ler aquilo, ainda que as palavras empregues expliquem tudo o que estas
linhas não conseguem. E o pior é que temo mais pelas duas almas que educa do
que por ele mesmo (dois filhos ainda crianças, um deles, talvez já com 5 ou 6
anos, que evidencia visíveis problemas de interação com o meio ambiente,
constantemente transportado ao colo dos pais, por manifesta impossibilidade de
o fazerem direccionar no sentido desejado. Nunca
o vi comunicar com aqueles a quem o tentaram apresentar, expor ou mostrar.)
Tudo isto para vos dizer
quanto urge dotar os serviços de saúde de mecanismos de alarme, onde o disparo
de casos como estes possam ser diagnosticados e, devidamente
acompanhados. É que, de contrário, eles matam-se(-nos) a todos…