sexta-feira, 31 de outubro de 2014

apenas uma parte da verdade

Por muito que a escrita engane, e é sabido como engana bastante, quem a usa procura a verdade. E, mesmo quando o que alcança não passa de um sentido desviado dela (da verdade), encontrá-la nem sempre significa que ela nos agrade. 

É assim que o bálsamo da escrita funciona como uma máscara do nosso eu mais íntimo, atrás da qual se esconde a mais irracional das mentiras.


Em suma, manda a verdade que a escrita ilude, que embelezando a crueza da vida o que sobra é o ruído onde a esperança se afunda. 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Herman: A difícil arte de ser único e grande *

* Por José Jorge Letria.


Herman está a comemorar quatro décadas de carreira artística e autoral, celebrando e fazendo-nos celebrar um percurso único na história do espectáculo e da cultura em Portugal. Que não haja dúvidas a este respeito, já que nunca ninguém levou para o palco e para o estúdio como ele a magia da voz, da criação de personagens, de vozes e de estilos, a espontaneidade e o riso, a poderosa crítica social e moral e a rara capacidade de nos mostrar este país no que tem de mais risível, mais inimitável e mais poderoso.

Recordo-me bem de Herman José quando a sua carreira artística começava. Foi em finais de 1974. Eu estava em estúdio a gravar o LP “Lutar/Vencer”, que sairia para o mercado em 1975, e lembro-me de um jovem magro, de cabelos compridos e calças à boca de sino, num canto do estúdio, com dificuldade em disfarçar uma timidez que não o impedia de fazer rir quem estava junto dele e de criar pequenos mundos a partir da realidade que observava e caricaturava. Era o princípio de uma carreira que rapidamente o levou para o teatro de revista, para os palcos da itinerância musical e depois para a rádio e para a televisão, fazendo dele uma personagem muito maior que todas as que foi inventando e recriando.

Herman começou como bom viola-baixo e nunca deixou de ser um excelente músico, sempre apoiado por executantes e arranjadores de excepção, de Pedro Osório e Thilo Krasman a Pedro Duarte. Depois começou a revelar outros talentos, incluindo o de desenhar, de criar personagens assombrosas- do Esteves ao Nelo da Idália- transformando o estúdio num enorme palco do mundo em que todos nos reinventámos rindo com ele e invejando a sua espantosa capacidade de ser único e nosso.

Hoje, ao comemorar 40 anos de carreira, Herman, artista e autor, não dispõe das condições que tinha há uns anos atrás para fazer grandes “shows” televisivos e para animar a noite lisboeta com as suas aventuras de empresário da restauração. A violência da crise serviu de pretexto para afastar dos ecrãs todos aqueles que, com grande talento criativo, nos faziam rir e obrigavam a pensar. Ficou o circo dos comentadores e dos analistas, que saem muito mais baratos e nos fazem rir muito menos, até porque vão mantendo as suas pequenas carreiras sempre de olhos postos no desejo pessoal de poder. Os artistas ficaram de fora e ganharam os que são apenas “artistas” do óbvio, do previsível e do tristonho, retrato de um país que tem de se rir de alguma coisa para não morrer de angústia.

Herman tem hoje um modesto espaço televisivo em que deixa a marca do seu talento, mas que está muito longe do que lhe é e nos é devido, quando outro vento soprar de feição num futuro que se deseja próximo, com muito menos austeridade e muito mais criatividade e esperança. Da história fazem parte as gratas memórias de “O Tal Canal”, “Hermanias”, “Casino Royal” e tantos outros programas que, em momentos que não esquecemos, também sofreram os efeitos da censura moral e política que resultava de um modo reprovável de pensar a comunicação em Portugal depois do triunfo da democracia e da liberdade. Herman não esqueceu esses momentos, e nós também não.

Ao longo de 40 anos de carreira brilhante e única, Herman fez amizades, gerou grandes invejas e silêncios despeitados, construiu personagens, rostos e vozes e nunca se deixou confundir com os praticantes banais da “stand up comedy” em Portugal, empenhados e trabalhadores mas em regra desprovidos de um talento ofuscante e luminoso como o seu.

Há uns dias, Herman recebeu a Medalha de Honra da Sociedade Portuguesa de Autores, instituição de que é membro, e teve a elogiá-lo e à sua carreira duas pessoas que desempenharam um papel importante na sua vida: Nicolau Breyner e Nuno Artur Silva. Ambos sublinharam a excelência de uma obra que não tem par nem consente imitações, as de circunstância e as outras, porque Herman é maior que tudo isso. De resto, Nuno Artur Silva declarou, com pleno sentido de justiça, que Herman foi o verdadeiro 25 de Abril do humor em Portugal. Depois Herman usou o palco para nos recordar que continua no auge de uma carreira absolutamente invulgar, mesmo tendo-se em conta o muito que se faz por esse mundo fora em palcos e estúdios.

E todos estiveram nessa sessão com a convicção de que, aplaudindo, estavam a agradecer a excelência de um percurso interpretativo e criador que nos tornou melhores individual e colectivamente, porque quem ri com inteligência torna o mundo mais humano, mais livre e mais soberano. Quando lhe forem dadas de novo, e sempre a tempo, as condições que merece, poderemos dizer que Portugal reencontrou o melhor de si próprio, projectando no espelho de corpo inteiro tudo aquilo que o tem feito diferente e único. Tal como Herman José, artista absoluto que o esquecimento e a mediocridade nunca atingirão.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

a alegria de viver (em raiva de contraponto)

É estranho que este nosso existir em sociedade esteja a conduzir tão depressa e tão intensamente a esse fenómeno que se funde no perder de cor das palavras 'alegria de viver' em proveito duma fúria maior designada por 'raiva à flor da pele'. 



terça-feira, 28 de outubro de 2014

Não, não se trata de um mero problema de escolha nossa. Digamos antes tratar-se de alguém que esperava ‘mais’, ou ‘melhor’. Isso sim.

Confusão que me faz esta coisa das pessoas dizerem que fizeram as suas opções, denunciarem aquilo a que chamam as suas preferências, as suas escolhas em suma. A  ideia com que fico é que boa parte delas arrasta nisso os enganos de uma vida inteira. E, muito em particular, fazem-no sem dar conta de que já são poucas, quase nenhumas, as ditas selecções em que tenha pesado a sua determinação. No esplendor dos tempos que correm são raras as competências em que somos nós a escolher, é-se escolhido. Muitas vezes, até sem chegarmos sequer a percebê-lo. Sinto muito se estou a decepcioná-los, mas é assim.  Isto, claro, quando não se é dispensado. Em regra, por manifesta (e absoluta) falta de jeito. Ou de correspondência, sei lá eu!?  Como está em voga dizer-se, não há lugar para segundas oportunidades.

Ora, daqui retiro eu a conclusão de que

Tudo o que a vida nos dá é um certo enriquecimento, a que chamamos experiência pessoal, o qual, independentemente  do contexto de onde provenha, e por mais amarga que seja tão trágica ironia, nos chega sempre tarde de mais. Tarde de mais. 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

a vida privada já não é o que era.

Nos anos oitenta se perguntassem a alguém o que achava de uma aplicação informática através da qual fosse possível ver o que pensava, avaliar a sua imaginação, os seus gostos pessoais, expor a sua intimidade, os seus relacionamentos, conhecer as suas limitações, a sua criatividade ou os seus conhecimentos, muito pouca gente aceitaria integrá-la, tenho a certeza. 
Hoje, trinta anos decorridos, já temos as redes sociais e o contraste passou a ser feito por oposição com aqueles que não usem as ditas aplicações, seja para mostrar o rabo ou para espiolhar a vida íntima dos outros, seja batendo palmas, soltando gostos a torto e a direito, ou ali ir publicando vulgaridade em formato ‘peço-desculpa-mas-não-tenho-ideias-próprias’.
Não me surpreende, confesso. O que ontem era mau hoje é muito bom. E, se há matéria em que a evolução se espraiou por piores terrenos, esta, do advento das novas tecnologias, nela incluindo a própria TV que nos entra pela porta dentro - paga a preços que deviam obrigar à qualidade - passou a ser do mais reles e inferior que há.
Em termos de audiovisual o conceito de produção nacional esgota-se hoje no mais nojento (leia-se asqueroso) dos programas de voyeurismo. Massificado em canais (e canais) cujos horários nobres são ocupados por milhões de espectadores, a espreitarem para dentro de uma casa onde o vazio é preenchido por gente ainda mais vazia, ordinária e sem valores. Gente desprezível, escolhida a dedo, que nós, cá fora, mostramos aos nossos filhos, senão para que eles aprendam a preferir o que é nosso, porque a alternativa não é melhor. E é assim quando a opção, nos canais ali ao lado, designados por interactivos, o que passa é algo que não se esgota na má qualidade, a que ouvimos chamar stand-up-qualquer-coisa. Que é como quem diz, programas de néscios, que se intitulam humoristas, feitos para néscios, incapazes de aferir e entender que o desnível de cultura a que estão a ser submetidos há muito baixou do zero e passou a ser cotado a vermelho, por números negativos.
Esta sim, é a linha que divide o respeito das instituições pela educação e cultura de um povo, pelas suas vidas privadas, atraídas ao engodo da exposição a qualquer preço, indiferente à sua estupidificação. . 
Dos anos oitenta para cá, um tsunami de modernidade levou à sua frente a fatia da população que então se dizia educada, culta, informada, esclarecida. À vez, todos juntos, ou cada um por si, foram forçados a ficar indiferentes, e desinteressados. Ou, se preferirem, numa palavra ainda mais exacta – tacanhos.  O que os define, descurando as marcas da roupa ou as lojas onde a compram, o modelo do carro ou os locais das férias, é que são agora uma imensa maioria, no seio da qual perderam expressão as famílias – avós, pais, filhos, não interessa – capazes de chegar ao fim do mês com mais noites de serão a ler um livro (ler o quê?! o que é um livro!? livro de quê!?), ou em que foram ao teatro, ou ao cinema, do que aquelas em que ficaram a ver o nojo em exibição ou  a trocar postagens que outros fizeram.

Eis, pois, o esplendor da vida privada no ano 2014. É entrar, é sentar, a TV está ligada, o portátil também. Venham daí, assistir há verdadeira contradição no seio do entretenimento. Aprender a mediocridade.

Como já alguém disse: é como se o mundo girasse e nós parados. À espera do milagre.  Ou, talvez, quem sabe, da aplicação que nos formate, de bestas em um-bocadinho-menos-estúpidos ou, ainda com mais sorte, outra vez em seres racionais. 

domingo, 26 de outubro de 2014

o preço de ser mulher

«Quão optimista é o que espera justiça dos juízes!»

Frase destacada da carta, datada de Abril último, escrita por Reyhaneh Jabbari à sua mãe. 

Detida desde 2007, quando tinha 19 anos, foi enforcada no Irão, no passado sábado, acusada de ter matado o homem que a tentara violar. 

Acresce, que a confissão que a condenou à morte fora obtida sob ameaças e tortura, não obstante  as organizações de direitos humanos se terem mobilizado (sem êxito), para que tivesse um julgamento justo.

sábado, 25 de outubro de 2014

depois de entrar na água com o propósito de me afogar, percebi que a maré estava baixa e desisti.

Sou um admirador da vulgaridade. Tenho por ela uma atracção irresistível. De tal sorte que já cheguei mesmo a tentar algumas imitações, todas menores por comparação (felizmente!). Contudo, não há como ignorá-lo, venho a conseguir cada vez melhores desempenhos. A conclusão, conforto-me em acolhê-la assim, é que consegui-los cativa tanto mais seguidores do que antes gerava de anticorpos. O tempo tratará de confirmá-lo, vão ver. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

é, até mais ver, a maior quantidade de desilusão que cabe numa só hora

Sim, eu sei, bem podia ter escolhido outra coisa. Ideia parva esta de ir a uma terça-feira, logo às dez da manhã, a uma bodega de uma livraria. Acabo a frase a já tenho a consciência a justificar-se: tinhas dito que o livro saía  hoje. Eu sei, é verdade, foi por isso. Mas, nem assim, não desisto, não deixou de ser uma ideia tola. Até por que, lá chegado, bem podia ter apontado ao escaparate das tecnologias. É lá que passo tempos sem fim, a admirar todos os gadgets de ponta, cheios de utilidade, ainda que nenhuma me seja proveitosa.   Aí sim, era garantido que uma hora ou duas. Mas, não. Um café, um rissol e três livros. Sim, disse três, o outro não conta que esse levo-o mesmo assim, sem ver, seja mau ou bom. Como se só a capa me interessasse. E de facto, parece-me bem, estou na dúvida até… Pois se acho que já sei a história, ainda sem a ter lido. Vejamos. É só a capa, comprova-se. Vai na mesma.
(Se leram isto até aqui e ainda não perceberam ao que me refiro este é o momento de desistirem. Esqueçam o resto. Continuem a aperfeiçoar a leitura. A praticá-la. Quem sabe um dia consigam entender mais do que  as legendas dos filmes da tarde de domingo. Já é um bom treino. Ler blogs também. Mais ainda se nada soubermos de quem escreve.)

Os outros não. Há que tomar-lhes o peso.  Primeiro uma passagem a ver se há lastro que me afunde. O café saiu uma merda. Deve ter torrado mais seis meses do que devia. É sempre isto. Não aprendo. O rissol quase igual. A crosta não aderiu à massa que, por vingança (tenho a certeza), não aderiu ao recheio. Sim, eu sei, podia ter escolhido outra coisa. E já o primeiro livro de lado. Outra bodega igual ao café e ao rissol. Nem penso duas vezes e só paro  na página 20 do segundo. O crítico diz dos canais de TV interactivos o que eu seria capaz de dizer do vinagre, sobretudo se estivesse estragado. Reconheço-lhe razão. Toda. Ainda assim, o tema é mau demais, desisto do livro como há muito desisti de ser espectador dos ditos. Ao terceiro peguei apenas com uma mão. A outra no copo de água, disposto a levá-lo à boca. Ao meu lado a Lucy e o Heitor, acabados de sentar,  cada um ao seu telefone, comunicam com os seus interlocutores como se o fizessem de viva voz. Sem telefone. Eles aqui. Os outros na Ilha da Madeira. Este é bom, a escrita cativa, ouve-se o mar de que a autora fala. Vai também. Levo os dois. Já não suporto ouvir o Heitor. Menos ainda a voz da Lucy. Parecem saídos de um concurso de drag queens. Afinal, só percebi agora, falam para o Brasil, S. Paulo. É ainda mais longe. Estão justificados os gritos. Vou pagar. Valeu-me o copo de água para engolir tanta desilusão junta numa só hora. É um acontecimento. Ou, então, é o nada de que sou feito a estranhar tal crédito de sorte. Principalmente agora, que tenho andando tão descoberto dela. Sim, eu sei, bem podia ter escolhido outra coisa. Siga a procissão.  

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

muito próximo do elogio

É raro o mês em que não almoçamos duas ou três vezes. Talvez já tenha até havido alguns em que mais. É assim há anos. Não se conhecem variações. Já eramos ambos adultos quando o destino nos cruzou. Ficámos cúmplices desde aí. De lá para cá o tempo pouco mais tem feito do que consolidar sintonias. Por vezes pergunto-me se serei eu que o vejo como o juiz que me julga, ou se será ele que me toma por conselheiro. Certo é que nem um nem outro fazemos a desfeita de ignorar os pareceres e as opiniões que partilhamos. Dele eu admiro a sua fria inteligência e a firmeza, a determinação com que se empenha no que há que fazer (e faz), sem deixar para depois. Para além disso há também um verbo – basta esse – que o descreve: contemporizar. A sua vida tem sido feita disso. Contemporiza nem seja a seu desfavor, pois há coisas que não têm preço. A paz (e a alusão que a incorpora) é de todas a que lhe é mais cara. É por isso, eu sei, que trocaria sem hesitar, dez amigos dos muitos que lhe pedem a bênção, por umas horas no deserto (metáfora do sossego absoluto). De mim, ele admira, suspeito eu, muito mais que ao resto e à falsa modéstia (não sei onde é que eu já li isto), a alucinada estreiteza persuadida duma estatura inexistente. Seja como for, é daqui, desta imparidade admirativa, que resulta o nosso volume. Há uns anos, quando começámos por nos juntar, eramos só os dois, hoje somos umas centenas. Eu e ele presentes, os outros não.    

terça-feira, 21 de outubro de 2014

relevos e enlevos

Dar desproporcionado relevo e importância às coisas que a não possuem é algo que nos aproxima do confuso e pequenino absurdo que é ignorar o que isso representa. E representa muito pouco de facto. Então, impus a mim mesmo a obrigação de reconhecer que são muitas as coisas que realmente não possuem a importância que lhes dou. Distinguir o embrulho do conteúdo é preciso para que possamos valorizar apenas o que é digno disso. O resto, bom, o resto são reacções em que de forma inadequada valorizamos porcarias que não cabem na cabeça de um alfinete. O importante é amar no presente  os que amamos,  e nos amam a nós, porque amanhã (ou logo à noite, quem sabe) o futuro  pode já não passar de uma luzinha que se extinguiu. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

um beco que é capaz de não ter saída

É estranho, e curioso ao mesmo tempo, que do lote dos meus conhecimentos, a gente mais carente de amor que conheço seja também a mais incapaz de amar. Faz-me isto lembrar uma estrada sem saída, o mais eficiente dos cárceres.  

sábado, 18 de outubro de 2014

um dia, quem sabe!?

Um dia também gostava de ser um vigaristazinho em potência, um ditadorzeco vestido de artista (mesmo que em decadência), um trafulha daqueles que ficam com o dinheiros dos impostos de todos nós e se acham muito dignos, um mau filho, um pior pai, um coleccionador de engates, um supra-sumo do logro, em suma. E depois,  poder ir à televisão, a um daqueles programas excelentes para podermos fantasiar o ser supremo que não somos e assim sossegar a consciência e enganar mais uns quantos.

Quem sabe um dia não perco a maior riqueza que os meus me deixaram – a vergonha - e consigo fazê-lo.  

Já me imagino a ser apresentado: hoje, entre nós, para mais um dos nossos programas sobre alguém de quem mal nos informámos e  nada sabemos, caros telespectadores: o imperador Napoleão.

É degradante mas parece-me eficaz. 

Um dia, quem sabe?

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

foi só um dedo entalado, uma unha partida.

Eu nem devia falar nisto, mas, tudo bem, lá vai… Tenho andado tão afadigado com o Orçamento para 2015 que mal me tem chegado o tempo para acalmar o sentimento de injustiça que é andarem por aí tantos espíritos mesquinhos a dizer que o arranque do Ano Escolar (e até mesmo do Mapa Judiciário) não foi um êxito.  Então não?!

Que coisa! Esperava que esta mania de extrair significados de  um ou dois pequenos incidentes sem importância, a que nem os nossos PM e PR ligaram patavina,  já vos tivesse passado.


Gentinha azeda, cambada de transtornados que nada aprenderam daquela outra vez em que reclamavam a demissão dessa douta personagem do conhecimento, do estudo e do saber, que dá pelo nome de Dr. Relvas. Ainda estão recordados? Devem estar pois, passam a vida nisto.

Mania da embirração a vossa, deviam era aprender a substituir a raiva pela indiferença, isso sim, apre!

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

a anti-expectativa

Há pouco, estava eu ali a ser parvinho numa gaveta do facebook, objectivo que, aliás, atinjo com relativa facilidade, quando o tema em discussão me fez pensar em algo que nunca antes me ocorrera. Trata-se do acto de oferecer flores à esposa. Com efeito, o raciocínio a que cheguei, que por sinal não me parece totalmente destituído de probabilidade, é que estamos perante um gesto carregado de futuro. Ora, se levarmos em conta que o futuro não é mais do que um monte de expectativas, afigura-se-me que devia estar aqui fortemente condicionado o prazer que a esposa sente sempre que as recebe. Ou não?  O entendimento é este: há sempre uma legítima expectativa no marido que as oferece. (Não digam que não, bemmmmmm…) E, pior que isso é que se trata de uma expectativa de localizada esperança. Ah, pois é! Um gesto em que se manifesta um sonho tão nítido e detalhado quanto a vontade de o vermos realizado. Posto isto, bateu-me forte a convicção de que não deviam entregar-se a grandes regozijos  as contempladas esposas. Eu se fosse a elas valorizava tanto mais o gesto quanto maior fosse a distância que separe o casal. Ela em Vila Nova do Coito (Faro) e ele em Venda da Gaita (Pedrógão Grande). É que, de contrário, protegido pelas desculpas que antecipo quanto ao uso da linguagem que aí vem, sinto o momento remetido para aquele registo de humor (vulgo anedota) das duas vizinhas que conversam à janela do oitavo andar, quando o marido de uma delas, acabado de estacionar o carro, a leva a dizer à outra: olha! vem ali o meu homem e hoje traz-me um ramo de flores, já vi que logo vou ter de ‘abrir-as-pernas’ (não liguem à expressão que, sem talento nem aptidões intelectuais bastantes, tive de ir roubar ao repertório do Quim Barreiros); o que leva a que a amiga lhe pergunte de imediato: então porquê vizinha, não tem jarras em casa?


Enfim, esqueçam esta miséria (que acabam de ler) e esqueçam também aquela que nos espera no Orçamento para 2015, que, (digo-vos eu)  parece uma coisa mas é outra, bem pior. Decididamente vou ter mesmo de aumentar a medicação. Ponho-me para aqui a escrever com mais alegria do que dignidade e o resultado é este. Não consigo estancar a verborreia. Desculpem. 

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

imitação

Há uns anos, quando comecei a fazê-lo, achava-me único neste observar de troça a que se submetia a exposição social (tal como as peneiras ou a cretinice) dos asnos a quem eu apontava o suco gástrico deste passatempo que mais tarde vi ser definido como ‘a minha escrita’. Porém, pouco tempo depois já me confessava incomodado pelo exagero em que tendia a cair tantos eram os alvos que inesperadamente se punham a jeito, aliás, como bem define aquele escritor que eu passo a vida a citar (esse que vocês sabem): «Deus deve gostar imenso dos patetas porque não se cansa de fazê-los».

Depois, quando já esperava que o tempo e a própria aprendizagem que até os tontos (e os porcos também) vão fazendo com o chafurdar no seu próprio esterco, fui-me apercebendo que, longe de melhorar, a saga adquiria apetites de crescimento. Os néscios não aprendem a sonhar noutros formatos nem de outras maneiras e usam a fantasia (associada à estupidez em muitos casos) para se revelarem. O resto (entenda-se por resto esta apetência de análise crítica), advém da visibilidade com que, envaidecidos como só os ignorantes sabem sentir-se, se gostam de mostrar, aqui e ali, por todo o lado, nas mais insólitas condutas, nos mais merdosos comentários.

Portanto, ao invés de mudar o tércio dos meus disparos, o que tem vindo a acontecer, malgrado o esforço enorme que já faço por me abstrair do que de pior há entre os piores, é que são agora muitos os que até começaram por me querer modelar a mão, a trazer até mim o desempenho de alguns desses tops da mediocridade.

Assim, não raro me passou a acontecer ser confrontado com perguntas como: já viste o que escreveu fulano de tal? Tu leste o comentário de beltrano? Isto, quando não é mesmo um link ou um destaque, já acompanhado da observação de quem o leu e logo ali achou que enviar-mo era favor de quem chega fogo à pólvora. De quem sabe que o espectáculo está no fogo-de-artifício, não no seu preparo.

Ora, estou eu aqui com tudo isto para vos vir agora apontar um desses casos, de anunciadora  estupidez, cuja estrada até ele me foi aberta por um familiar, que, ao destinar-me uma das perguntas ali acima reveladas, terá achado (tal como eu), que só por avançado estado de ostentação, portanto insusceptível de deixar passar em claro, se podia tecer tal alarvidade.

Com efeito,  mesmo sabendo que o faz no seio de um espaço (pouco mais que uma aldeia), onde os infoexcluídos constituem maioria, onde só um palerma com tão pouca sobriedade  pode ser visto como gente de saber, não posso deixar de trazer à tona um tal exemplo de pesca nas profundezas da imbecilidade.

Pois, trata-se o caso de uma banal frasezita, acompanhada  de imagem, onde expressa a tola criatura que a editou a sua admiração pelas columbófilas aves e o seu saber voar alto (imagine-se a altura a que voa o anormal), que mistura com a sua generosidade (quiçá senão grandeza) de ser(em) também capaz(es) de colher migalhas do chão.

Com franqueza, incapaz sinto-me eu de me contentar com o parecer indignado de quem me trouxe mais esta pérola – o autor é uma fonte de ultrajes desta natureza – e  mesmo que eu acredite que os faça todos por manifesta tacanhez cultural e deslocada cagança de presunçoso, não consigo conter a pergunta:  que mensagem pode querer passar a alimária que escreve algo assim?

Claro que, vinda de quem vem, não me é fácil encontrar palavras com que diga da minha indignação por tão pouca (e tão limitada) inteligência. Mas, apesar disso, e ainda que descuradas outras piores posições, da mesma mão saídas, cuja condenação a seu tempo também aqui libertei, não sou capaz de deixar de pensar no que será o comportar na vida de um exemplar humano destes. E, nem mesmo ignorados todos os ‘diz-que-disses’ de que há conhecimento, me sobram dúvidas que só um pirilampo será capaz de o imitar. É que não é fácil alternar entre a completa escuridão e um discreto piscar que mal se vê. Só mesmo no breu da noite, quando misturado com os outros procure passar pelo que jamais será. 


Por tudo o que foi dito, meus caros, recomendo muito cuidado, olhem que esta coisa do escárnio pega-se. 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

deitei-me ao trabalho e saiu-me isto.

Há coisas que, mesmo nascidas de uma apurada intuição de penitência, nem sempre consigo digerir. Ou, pelo menos, dizer que não consigo já me aquieta que chegue. Uma delas (há muitas) é este vício avassalador, que carrego desde os idos anos da minha adolescência, de preferir trabalhar 10 horas seguidas, em regime ‘non stop’, para acabar uma tarefa que tenho pela frente, a permitir que a empreitada se arraste, dias e dias, em modo ‘um-bocado-agora-o-resto-depois-logo-se-vê-quando’. Mesmo que, diga-se, se tratem de coisas que nada acrescentem ao trabalho que dão e cujo resultado final (fisicamente falando) seja trágico, como de resto é o caso. Na verdade, o desfecho que advém do cumprimento do ajuste que comigo mesmo tinha feito, supera em satisfação quer as algias da região lombar  quer as nódoas negras que me decoram as bimbas, efeito de tantas horas sentado. Assim sim, vale a pena. Morto mas com o dever cumprido.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

o pior do silêncio é quando há uma saída e não damos com ela

Nos últimos dias a vontade de aqui vir preencher silêncios não tem saído do beco em que se meteu. Eu bem tenho aberto a folha, apontado ao sítio e, indo directo ao assunto, tentado dizer muito mais do que as coisas mostram. Ou seja, nada. No entanto, percebe-se, tentar não tem chegado. A voz do silêncio tem sido bem mais poderosa. Tenho levado horas perdidas nisto, à espera do que não acontece. Digamos que tenho conseguido alcançar, na perfeição, o que há de mais inútil para as necessidades existentes. 

domingo, 12 de outubro de 2014

assim por diante, até chegar ao inaceitável

Se de cansaço ou aceitação me deixo iludir de vez em quando é porque, de tanto desafiar o mundo e as leis, a ordem natural das coisas, ou a triste banalidade das ideias e dos acontecimentos, já não aguento mais realidade. Então, procuro desesperadamente uma nesga de esperança entre os meios e os fins e, quantas vezes, mesmo sem contar com o fôlego recomendável para tal feito, retiro-me para os meus adiados prazeres acoitado na minha iluminante solidão.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

a jornalista

Com um dia de chuva e uma tarde livre pela frente que mais podia eu fazer? Bom, talvez que companhia ao meu neto, na sesta que dormia, não tivesse sido má alternativa. Porém, escolhi outra. Esta.  Quer dizer, esta e mais uma ou duas também elas revestidas a letras, palavras e frases. Uma desgraça, dirão vocês. Um bálsamo, digo eu. Logo aqui (à partida) estamos longe de acordo, temos o romance estragado, mas adiante. Folhas a postos (mentira), lápis a jeito (outra), a mão ainda de pedra e já as ideias em aperto à saída do funil da imaginação. Houve mesmo que distribuir senhas. Ordená-las. Número um. Número dois, Por aí fora. Eu a fazer o casting temático. A escolher dos melhores o pior. Como quem põe o obstáculo à altura de quem o vai transpor. Saiu-me a tal que se diz jornalista. Pobre escolha. Ainda que, pelo menos isso, fique a vantagem da barreira ao nível do chão com a escolha de tal tema. Pouco mais que um degrau. Coisa baixa, portanto. Então, cheia de si mesma, com um rol de causas prontas a aviar, indigna-se a sumidade  contra os anónimos da rede, a quem a sua estação, pelo meio das misérias que difunde, nos intervalos do lixo a que se vende, move guerra de perseguição.  Pelo caminho, na esperança de que não se note, usa o seu prepotente poderzinho, por detrás do qual se acoita, para bloquear o acesso aos que a defrontem nas ideias de merda (perdão, de porcaria)  que espalha. Distribui ‘likezinhos’ aos que a aplaudem, e só a esses, em troca de vê-los bater-lhe palmas apelando à utilização cívica dos espaços  públicos. Eleva-se no ar e mostra-nos (mostra-nos bem) que combate afinal o gentio da sua laia? Nada. Mostram-se apenas. Reclamam a exclusividade da exposição. Apreciações à parte, esperam que lhe sejam reconhecidos dotes. Ou, na sua falta, a superioridade, por exemplo. Ou isso ou és bloqueado. Tratado como um excluído do alinhamento. Busca-se um rótulo, seja lá o que for, e esse és tu. Sou eu. Mesmo que o letreiro não assente bem, pouco importa. Retiram-te o acesso à lama. Proclamam assim o absolutismo da sua verdade. Uma espécie de profissional competente, mas em medíocre. Farsola mesmo. Um sub-produto da mais fraquinha qualidade. A jornalista.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

o culto superficial da sinceridade.

O que é a sinceridade?  Mentir melhor, genuinamente convencidos que não mentimos! 

                                                                                   (António Lobo Antunes citando Cortázar )

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

a mentira elevada ao engano

Sinto-me um pobre palerma apanhado dos restos do mundo. Sim, é verdade, sinto mesmo. O que me salva é a indiferença. O olhar em volta e concluir que estou só. Os outros não me fazem companhia. Não assinam por baixo. Não aplaudem. Não escorre aquela untuosidade peculiar. A falsa gentileza. A intimidade que não se ajusta. Como diz um bom amigo que nestas coisas me faz uma companhia de cão: seria muito difícil arranjar melhor que isto. E eu, a fazer fé na sua conduta, feita mais de amizade do que de serviços prestados, acredito nele tanto quanto na sua franqueza e lisura. Portanto, deixo para os apreciadores os elogios feitos de piedosas mentiras. Só assim consigo sentir a verdade dos abraços. 

terça-feira, 7 de outubro de 2014

erecção

Zeloso, interessado, profissional de brio como é, quis saber o senhor doutor se o tratamento me causou diarreia? Cefaleias? Comichões? Borboletas no estômago? Ou, mais ainda, se por algum nefasto efeito me afectou a erecção. Tudo isto se passou, depois de me ter vindo chamar à sala de espera,  no quebradiço gelo do inesperado trajecto, a meu lado,  no corredor, a caminho do consultório.  Só lá, menos afoito de questões, me deu tempo então para meditar na importância dos requeridos e já prestados esclarecimentos. É por isso (só por isso), que logo que daqui saia, me vou direito aos microfones (Twitter e Facebook) anunciar que está viva e se recomenda a tal de erecção. Não há como dar a saber destas coisas em sede própria e como o merecido relevo.  Não posso permitir que um dado destes constitua segredo para ninguém. Ora essa! 

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

preços (2)

Apareça homem, apareça. Leva um garrafão de azeite, dois queijos, uma garrafa de vinho, outra de whisky e ainda meia dúzia de calendários para 2015. Vá lá! Fico à sua espera, não se esqueça. Faça-me esse favor. Ah, é verdade, não venha de manhã cedo, que eu só chego depois das onze. Vou dar as minhas passeatas, a pé, para desentorpecer os membros.

Bom, em verdade esta conversa (o monólogo, se quiserem) aconteceu há uns meses. Seis ou sete, acho eu. De lá para cá o azeite é bem capaz até de ter ficado rançoso. Os queijos cheios de bolor. O vinho azedo. O whisky evaporado. Só os calendários é que ainda se aproveitam. É, de facto, implacável o efeito do tempo. Até a caridade perde o seu encanto.

Não sei que faça...

Acho que vou continuar a esquecer-me, reduzido à minha dimensão de pobrezinho sem esmola. Não sei porquê mas algo me diz que até os calendários são como os favores de deus. Não têm preço.

domingo, 5 de outubro de 2014

preços (1)



Há sons que reconheço à légua. Alguns deles, muitos, sobraram-me da infância, como o inconfundível assobiar do meu pai, a vozita da minha filha aos 3 anos (quando a seu lado me sentava para a adormecer),  ou a metálica sonância característica  da campainha lá de casa. Esses, e mais uns quantos, retenho-os como um sonho inesquecível.  Nasceram comigo e comigo hão-de ficar. Porém, outros há a que o meu ouvido mal se tem habituado. Seja porque mudam frequentemente ou somente por não serem do meu agrado. De todos estes últimos o da falsidade - o soar a falso - é o som que ocupa o primeiro lugar no meu ranking do ruído. O que me sai mais caro. De facto, malgrado existam outros tantos que não me foram fáceis esquecer, este é daqueles cujo preço me tem custado a alma a pagar. Talvez por com ele continuar a lidar no dia-a-dia. De máscara enterrada na carne do rosto continuam a ser muitos os que me abraçam quando precisam e que, depois de servidos, se ficam pela foto no local destinado aos amigos nas redes sociais. Ou nem isso.  

sábado, 4 de outubro de 2014

Santiago e a negação


Santi e John em Salesianos de Lisboa Out. 2014

De como moldar uma criança todos temos noção. Uns mais que outros. À força de berros, ralhetes e ameaças, pela diplomacia da dialéctica ou da argumentação. São inúmeros os recursos disponíveis.  No que me diz respeito a mim, sobretudo mais recentemente,  em matéria de persuasão dos netos, sempre funcionou na perfeição (pelo menos com o mais velho) a vetusta técnica da negação.

- Não vais querer que eu me zangue contigo, pois não João?
- Não. – Era esta invariavelmente a resposta.

Agora, dois anos e uns meses depois, a mesmíssima técnica revela-se um desastre com o fedelho Santiago.

- Não vais querer que eu me zangue contigo, pois não Santiago?
- Sim.

Ou ainda:

- Ai que disparate tão grande, não queres ser um menino feio, pois não?
- Sim.


Francamente, haja alguém que mostre maneiras aquele miúdo. Ou isso ou ensinarem-lhe a dizer NÃO. 

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

há fogo!


E o fogo pegado, como era de prever (e esperado), ao bombeiro levou que se gritasse.  Uma vez, duas,  e até três. Que nada, não atende. Insistindo e repetindo, o lume a arder e o bombeiro que não responde. Coisa insólita. Se desde Março já são dezenas as fogueiras extintas!?  Se desde então, todos os santos meses,  cinco ou seis descontando aqueles em que foram dezasseis?!  O que se passa agora que isto vai tudo a eito, devorado pelas labaredas da indiferença, na combustão que o vento a favor do desinteresse há tanto anunciava? Nada a fazer.  A não ser que, talvez, quem sabe, nos atendam num outro quartel.  Ligo já, decidiu-se então,  determinada,  a voz de comando. E, enquanto isso, aconchegando a tardia precaução que o medo do desconhecido recomenda, já vai pensado: e se não conseguirem, que fazer?  


Gritou, então,  baixinho, lá de longe, o surdo bombeiro: talvez esteja chegada a altura de irem ao cemitério local buscar os tais insubstituíveis que, consta,  por lá abundam em generosa porção. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

filomena

Não se lhe pede a perfeição e no entanto ela lá tão perto (mas tão perto). Não se lhe dá o que é devido (que é mesmo) e no entanto ela nem um ai. E se sem parar quisesse eu, assim podia ficar (uma noite e um dia) a dizer dela o mais que aqui não cabe e trago calado. Mas se paro (e paro já) é porque as plaquetas estão em baixo e não lhes deve dar grande sustento  o custo com que mal seguro o coração cheio das lágrimas que o momento íntimo destas revelações me causam.  Ainda assim, não as dando por escusadas nem as querendo evitar, vos digo que há 36 anos a meu lado ela é a mais sublime constante da minha infinita felicidade.


(Só espero que ela consinta - e não desgoste - este muito falar e pouco dizer que lhe dedico, já que, com a fervura dos acontecimentos estivais, nem uma prenda digna lhe dei no seu aniversário.)

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

o melhor amigo do homem



Até hoje só fui mordido duas vezes, por dois cães. Uma delas tinha eu acabado de fazer festas ao bicho (um pastor alemão) quando, dois passos à frente,  lhe senti os dentes nas costas. Não estava vacinado, foi recolhido pelo canil municipal, tive de levar dúzias de injecções de penicilina. O outro, tratou-se dum amigo de longa data cujo nome esqueci (é mentira, claro, mas dá gosto dizê-lo), com quem tinha andado a estudar na adolescência.  Estava vacinado, bastou enxotá-lo.  Jurei a mim mesmo nunca mais confiar assim em ninguém. Nem nos seres racionais. Tenho-me dado bem, confesso.