É verdade que levei anos a afinar este tiro. As mais das
vezes, e foram mesmo muitas, errando o alvo. Pensando hoje o que lhes faria
amanhã, quando voltassem, e depois contemporizando. A facilitar-lhes a vida (e
os negócios), qualquer um deles às vezes também designados por outras
expressões menos elegantes, que me abstenho de expor. Foram muitos anos disto.
O martírio a repetir-se e a renascer, uma e outra vez, sempre (sempre), num
permanente martelar de repetição. Como se o sentimento de ter pena me estorvasse
a pontaria. A coisa a acabar interminavelmente da mesma forma: eu à procura de
justificações no meio das nuvens. Onde elas não existem, pois claro!
Finalmente, este ano, sem mais daquelas, dou por mim neste
regozijo, quase palpável, e todos me parecem alvos fáceis. Um após outro, a
todos sirvo o mesmo desplante que me trazem: desculpa lá, este ano não vai dar.
Como diria o senhor meu pai se aqui estivesse (às vezes chego a acreditar que
está): puta que os pariu! *
*(Desculpem-me o vernáculo mas o velho Alípio tinha razão. É
profundamente libertador.)