terça-feira, 23 de setembro de 2014

morrem pela boca ressentindo fundo aqueles a quem foi indiferente o que por eles fizeste

Já ando há dias (muitos) a ganhar coragem. Um bocadinho de cada vez. Como quem bebe um Porto vintage, a deixá-lo tanto tempo na boca quanto esteve em garrafa. Umas nozes a acompanhar, só para quebrar o estalo no palato. E, a cada degustação, a cada inclinar de copo, uma nova esperança de aromas, um renovado alento de força.  Depois, sem um nada de peso que o justifique, num voo descendente de ousadia, o medo de volta. Um pavor que invade, e (não adianta) é de cobardia que falamos. Um dia chegará, tenho a certeza, a estaleca que agora me falha. Regressarei então ao ponto de onde nunca parti. Até lá, até que consiga abordar esse tema, resta-me o suavizante de saber que se adensa sem parar a contaminação do que tanto orgulho me deu ter deixado em estado puro.

A  eles cheguei a pensar, um dia, quem sabe quando, responder com o Shakespeare do 'Mercador de Veneza': «E se nos ofenderem, não havemos de nos vingar?»

Contudo, pensando bem, talvez não seja necessário se é de justiça e não de vingança que se trata. E a essa, punição nenhuma, por melhor que seja, supera o castigo que é não se poder ignorar a realidade. 

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