domingo, 25 de outubro de 2015

10 minutos

É um espaço a céu aberto. Uma escapatória na berma da estrada, frente ao posto de gasolina em que paro e onde apenas dois clientes ao balcão bebem minis e me ignoram. Cada vez que por aqui passo vejo-as sentadas, em cadeiras de campismo que dobram e levam consigo quando algum cliente aparece. Imagino que seja para pôr a roupa que despem, antes do serviço. Isto sou eu a presumir que se despem, claro. No entanto, o que me desperta a atenção é ver o que fazem nas horas livres. Conversam, enviam sms’s, uma faz cruzadex’s. A morena, mais pujante que as outras, é a única que não faz nada. Talvez por ser a que mais clientes atende. Calculo eu. Ouve-se então um ruído de motor e eis que um Audi, a fazer pisca, se aproxima dela. Mal se ergue, apenas se inclina junto à janela do pendura. A troca de palavras é breve, vejo-a pegar a mala, fechar a cadeira e, dirigindo-se ao porta-bagagens, depositá-la no seu interior. Depois, acena às colegas enquanto abre a porta e, fazendo de novo pisca, já o condutor retoma a estrada quando uma Ford Transit, abrandando a marcha uns metros atrás, aponta às duas que permanecem sentadas. Parou junto à loira de saia curta, ainda a enviar sms’s, perna cruzada, e que, sem desviar os olhos das teclas, se levanta para poder ficar à altura do vidro aberto da carrinha. Então, ao mesmo tempo que deixa de se ouvir o motor da carrinha, é agora o seu condutor que abre a porta e sai. Nisto, já ambos tomam a direcção de um carreiro que mal se percebe, um pouco mais à frente, por entre a vegetação cerrada que os cerca. Ela à frente, ainda a dedilhar o telefone, ele uns metros atrás, segue-a de perto depois de se ter oferecido para levar a cadeira. Quando desaparecem, por entre a sombra incerta dos ramos, sou eu que fico a adivinhar o teor da sms recém saída dos seus dedos: vou ter de ir, tenho um cliente, até já, continuamos daqui a 10 minutos

Sem comentários: