É um espaço a céu aberto. Uma escapatória na berma da estrada,
frente ao posto de gasolina em que paro e onde apenas dois clientes ao balcão
bebem minis e me ignoram. Cada vez que por aqui passo vejo-as sentadas, em
cadeiras de campismo que dobram e levam consigo quando algum cliente aparece.
Imagino que seja para pôr a roupa que despem, antes do serviço. Isto sou eu a
presumir que se despem, claro. No entanto, o que me desperta a atenção é ver o
que fazem nas horas livres. Conversam, enviam sms’s, uma faz cruzadex’s. A
morena, mais pujante que as outras, é a única que não faz nada. Talvez por ser
a que mais clientes atende. Calculo eu. Ouve-se então um ruído de motor e eis
que um Audi, a fazer pisca, se aproxima dela. Mal se ergue, apenas se inclina
junto à janela do pendura. A troca de palavras é breve, vejo-a pegar a mala,
fechar a cadeira e, dirigindo-se ao porta-bagagens, depositá-la no seu
interior. Depois, acena às colegas enquanto abre a porta e, fazendo de novo
pisca, já o condutor retoma a estrada quando uma Ford Transit, abrandando a
marcha uns metros atrás, aponta às duas que permanecem sentadas. Parou junto à
loira de saia curta, ainda a enviar sms’s, perna cruzada, e que, sem desviar os
olhos das teclas, se levanta para poder ficar à altura do vidro aberto da
carrinha. Então, ao mesmo tempo que deixa de se ouvir o motor da carrinha, é agora
o seu condutor que abre a porta e sai. Nisto, já ambos tomam a direcção de um
carreiro que mal se percebe, um pouco mais à frente, por entre a vegetação
cerrada que os cerca. Ela à frente, ainda a dedilhar o telefone, ele uns metros
atrás, segue-a de perto depois de se ter oferecido para levar a cadeira. Quando
desaparecem, por entre a sombra incerta dos ramos, sou eu que fico a adivinhar o teor da sms recém saída dos seus dedos: vou ter de ir, tenho um cliente, até já, continuamos daqui
a 10 minutos.
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