sexta-feira, 14 de novembro de 2014

dos sonhos desfeitos e das ambições por satisfazer

Não é de arrepiar a paisagem, nem o local fica sequer a dever à beleza que nos toca nos sítios belos que retemos. É um lugar perto de tudo tal como de tudo é distante. Um pedaço de nada a céu aberto. Um torrão do que se queira ali criado.   Ar puro, no pé da serra, soalheiro quanto baste, ventoso quando a aragem cresce em rajada, uma estiagem das mais férteis no tempo que resta. No entanto, se méritos daqui ainda não lhe sobram, valores também não lhe faltam. De tal sorte que, se do oásis de paz,  ou até mesmo de tudo o que ali é quietude, eu tivesse de falar para dizer do merecimento do local, mais não faria do que aflorar de leve o que aquele sítio tem de valioso. Ainda assim (não há nada mais triste que o imerecido desencanto)  por ali vive quem não sonhe com outra coisa que não seja partir. Fugir em debandada deixando para trás tudo o que a visão ignora quando se empenha em não ver o que está à frente dos olhos.
Privação podemos tê-la sem a querer, voluntariosa como sabemos que vem aquela que se instala sem cerimónia. Assim se hospeda tantas vezes na nossa vida de onde não sai por nada. Nada, aliás, é o que podem fazer, se não conste que a alcancem ou facilmente   dela se livrem, aqueles que a sorte deserdou . Contudo, ambição cega, essa só nos cabe a que assumimos e acolhemos. E, mesmo quando a cegueira nos faz definhar sob o pano de fundo da mais deprimente vida. Mesmo quando escondemos por detrás do mais insano desinteresse a vontade (ou a apetência) em fazer algo pela vida. Algo de útil, que nos dê sustento e equilíbrio, senão do corpo que seja do espírito; algo que nos afaste do desacerto, do engano e da trapaça que é a vida que levamos. Pouco crédito nos sobra quando assim nos damos por vítimas do mais fútil viver. Fazendo dos dias um repetido sonho de ter o que não temos, fazendo do tempo um eterno pedir como se o segredo daquele inferno estivesse em darem-nos o que talvez nem precisemos ou nunca seríamos capazes de governar – uma razão de viver.

(Retrato de algumas vidas que observo. Gente que esbanja anos de existência encerrada entre paredes de mentira e ilusão. Dizendo-se infeliz por não ter o que gostava,  descontente por não ser o que não é, mas incapaz de estar mais que umas semanas num emprego, escudada nas mais absurdas desculpas: é cansativo, ganha-se pouco, não me dão o justo valor, queria melhor que aquilo.

Definham de tristeza os que escolheram por vida ser inúteis reclamantes, ignorando os que a seu lado, com bem menos, são felizes, saudáveis e bem sucedidos. Crescem na dignidade aqueles que aceitam as desventuras como elas os colhem e as moldam na fortuna que os faz bem viver com o pouco que começaram por ter.  Mortificam-se e adoecem de tortura os se levantam, comem e dormem, dizendo-se infelizes nos intervalos, sonhando com um destino a que, indolentes,  não se dispõem NUNCA a meter mãos.

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