Da próxima que me obriguem a beber dois
litros de água, assim, sem a poder despejar, dou-lhes a escolher: ou me põem uma
algália, ou só o faço na piscina pública mais próxima. Para recuperar do aperto,
enquanto aguardava que a doutora me confirmasse que tudo estava bem, fiz-me
companhia na sala de espera. Passava um filme do Scorcese, de longe a melhor
coisa que pode passar numa TV, encostada ao tecto, mal sintonizada, com as
cores saturadas, sem som, numa sala de espera de uma clínica privada. Como se
não fosse já castigo que bastasse, sobreviver a este choque com o destino, a
minha gestora bancária acaba de me ligar a dizer que tenho a conta a
descoberto. Começo a achar que não é
só a TV que está mal conectada. Eu
também, com esta realidade. Mais tarde, já no estacionamento, ainda a digerir
a multa por nunca mais me ter lembrado e excedido em duas horas o tempo que
paguei, revi, ali mesmo, em escassos segundos, o rol de maldições, glórias e misérias que
conheço e acabei com o resto das amêndoas com sal que andavam caídas no banco
do pendura. Não fosse estarem um bocadito rançosas e ninguém diria que já ali devem andar há
duas semanas, pelo menos. Bom, mas
depois de tanta água, sede é coisa que não me farão, de certeza. Pensando bem
talvez eu não devesse sair daqui sem antes deixar marcada consulta de
psiquiatria.
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